segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Meu (septuagésimo) cordel, em parceria com o poeta João Batista Melo, editado em 2019. (070)



A VIDA DO ANALFABETO
 (em um cordel de lamento)

Se tem coisa nesse mundo
Tão difícil de entender
É vida de analfabeto
- Todo mundo pode crer
Através deste cordel
Pra cumprir nosso papel
Queremos interceder


Começamos nossa rima
Jamais para debochar
De quem é analfabeto
Porque não pôde estudar
Se debochar dessa gente
É coisa tão deprimente
Capaz de fazer chorar

Analfabeto é aquele
Que não escreve nem ler
E nem tem concentração
Mesmo querendo aprender
Vive só envergonhado
Prefere viver calado
Pra poder sobreviver


(02)

Ele é sempre um subalterno
Sem destaque nem valor
Cumpridor de qualquer ordem
Sem poder se predispor
Só sabe cumprir horário,
Nunca ganha bom salário
E tem de ser lutador

Esse tipo de pessoa
Parece não ter cobiça
E talvez por indolência
Aceita toda injustiça
Não liga pra proteção
Só come arroz com feijão
E faz que está com preguiça

E de tão discriminado
Vive sempre em agonia
Quando consegue trabalho
Tem que aceitar ninharia
É quase irracional
Não tem vida social
E nem tem cidadania


(03)

Realmente analfabeto
É um ser discriminado
Sempre tem que suportar
O que não gosta calado
Quando fica aborrecido
Não sabe ficar contido
Mas sempre fica estressado

Nada para analfabeto
Nunca tem grande valor
Ele cumpre seu dever
Não sabe ser devedor
Sempre está preocupado
Não compra nada fiado
E nem quer ter fiador

Como pode minha gente
Já com tanta evolução
Inda ter analfabeto
Que pode ser nosso irmão?
Se não é coisa política
É coisa pra lá de crítica
Que parece maldição!


(04)

Vejam bem atentamente
Que tamanha hipocrisia
O coitado analfabeto
Inda fizeram seu dia:
- (O quatorze de novembro)
Para todos eu relembro:
Eita grande fantasia!

Dia do analfabeto
É mais que demagogia
De quem quer enxugar gelo
Ou fazer mais covardia
Esse pobre sofredor
Além de ser perdedor
Sofre muito todo dia

O 14 de novembro
Que poderia ser flor
É dia de muita angústia
Vergonha, luta e clamor
Eu e João Batista Melo
Sem carecer de libelo
Concordamos sim senhor


(05)

Pois com certeza essa data
É uma provocação
Que um debochado fez
Pra provocar reação
Esse deboche maluco
Virou coisa de caduco
Que não merece atenção

O sofrimento é a luz
Que guia o analfabeto
O caminho ele descobre
Se for maneiro e correto
Se alguém quer se libertar
Nunca pare de lutar
E jamais fique quieto

Mas preste muita atenção:
Cative a sua pessoa
Se declare lutador
E tenha conduta boa
Fuja das causas erradas
Recuse maus camaradas
E não faça coisa à toa

 (06)

Não precisa divulgar
Que tu és inteligente
Faça tudo caladinho
Sem deixar de olhar pra frente
Aprenda logo a escrita
E verás quanto é bonita
Uma vida independente

Um dia tu vai sentir
Um fogo arder no teu peito
Pode já ficar feliz
Que teu caso vai ter jeito
Escute bem a verdade
Pois se tiver a vontade
Ela ajuda no teu eito

Corra atrás do endereço
Da onde ensinam viver
Quanto mais você aprende
Mais queira mais aprender
Faça assim sem vaidade
Vá cultivando a vontade
Até um dia vencer


(07)

O “Bê” “A” “Ba” é começo
E não se deve parar
Sempre vem mais desafios
Para você superar
E veja um grande segredo
Não basta um anel no dedo
Para se saber votar

Ser contra analfabetismo
É um dever social
Ele é um mal que atinge
Do Servente ao General
Todo cidadão de bem
Já descobriu que convém
Erradicar esse mal

Veja que não saber ler
É apenas um detalhe
Que dificulta o viver
Sem impedir que trabalhe
Seja um sujeito bem vivo
Não deixe que esse motivo
Na tua vida atrapalhe

 (08)

Após conhecer as letras
Precisa conhecer tudo
O mundo que é muito belo
Também é bem carrancudo
Às vezes tem rosto lindo
Parece até está rindo
Mas tem coração sisudo

Comece assinando o nome
Depois leia o universo
Nunca pare de estudar
Se cansar escreva verso
Se o tempo ficar bicudo
Não leve a mal, quase tudo;
Tem o seu lado perverso

Pra finalizar então
De maneira singular
Pra quem é analfabeto
Só nos resta aconselhar
Não queira ser um coitado
E nunca fique calado
Tenhas forças pra lutar!

FIM   (Rio de Janeiro/ago./2019)


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