sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Meu (triségimo sétimo) cordel, editado em 2019. (037)




  A AMANTE QUE MORREU NA CAMA
  (por picadura de cobra - lá no Piauí)

Causos lá do Piauí
Sempre são de arrepiar
Têm pouca divulgação
Mas servem pra poetar
Esse causo bem real
De aventura passional
O leitor irá gostar


No calor daquela terra
Lugar de cabra valente
E de mulher bem teimosa
Tem um quê bem diferente
Tudo que lá acontece
Nem tanto é como parece
Mas mexe muito com a gente

Na minha convicção
Piauiense é boa gente
Mas adora fofocar
Com tudo que vê diferente
A história dessa amante
De morte horripilante
Contarei neste repente



                                (02)

Essa ocorrência macabra
Sucedeu-se num hotel
Bem na beira duma estrada
Quase em frente um rodoanel
Foi num local bem escuro
Não tinha cerca nem muro
Um verdadeiro bordel

Nesse suspeito hotel
De quinta categoria
De tão sujo e fedorento
Até cobra já teria
Para alguém se hospedar
Só precisava pagar
Nem documento pedia

E no dia dessa ocorrência
Sem ter tanto movimento
O calor era danado
E não corria nem vento
Pro casal de namorados
Todos dois apaixonados
Era só divertimento




              (03)


Mas no clarear do dia
Logo a notícia correu
O hotel chamou a Polícia
Pra mostrar o que ocorreu
Sem nenhuma explicação
Houve grande confusão
Uma mulher ali morreu

Quando a Polícia chegou
Interditando o local
Percebeu ligeiramente
Alguma coisa anormal
O suspeito não fugiu
Ninguém soube ninguém viu
Nem sangue tinha afinal

Normalmente toda morte
Tem um quê fantasioso...
Mas ao menos tem que ter
Um suspeito criminoso
Mas se ninguém nada viu
Nem o suspeito sumiu
Foi um caso misterioso


            
              (04)


Quando a perícia chegou
Com ferramentas de sobra
Remexendo o colchão velho
Dando grande mão de obra
O perito se assustou
Mas logo acreditou
Na tal picadura de cobra

Estava ali enroladinha
Naquele velho colchão
Uma grande cascavel
Acabando a confusão
Com certeza ela picou
Com seu veneno matou
A pobre coitada então

Com cobra venenosa
Ninguém pode descuidar
Ela fica escondida
Preparada pra atacar
Quando a mulher relaxou
E talvez cochilou
A bicha foi lhe picar

                            

                                (05)


A morte dessa coitada
De pouca repercussão
Não teve choro nem vela
Nem teve condenação
De tanta praga jogada
De mulher abandonada
Essa só teve seu caixão

Os jornais daquela época
Nem deram bola pro fato
Nada levaram a sério
Ficou só sendo um boato
Não apareceu parente
Nem nada foi tão urgente
Foi tudo bem caricato

Foi sabendo dessas coisas
(Tão difícil de mudar)
Que tomei muito cuidado
Pra prosseguir versejar
Sem querer ser persistente
Tentarei ser convincente
Mas nada vou prejulgar
                          


                                   (06)


Essa história hilária
Pelo dito popular
(De picadura de cobra)
Foi mesmo de arrepiar
Fantasiosa ou verdadeira
Deve ter sido a primeira
Já vista naquele lugar

Dizem que um rico doutor
Morador de Teresina
Que sempre foi bem casado
Com a dona Clementina
Já costumava dar bola
Pra rapariga gabola
Quando ela fazia faxina

E a dona Clementina
Vivendo desconfiada
Não quis ter mais faxineira
Nem cozinheira nem nada
Quando o marido saía
Ela também lhe seguia
De tanto desesperada

            

                 (07)


Entendi de certa forma
Como a vida é complicada
Donde menos se espera
Tem estória mal contada
Clementina e seu marido
De costume parecido
Viviam de cara amarrada

Por onde o marido andava
Sua mulher andava atrás
De tanto desconfiar dele
Ela ficou mais audaz
Vivia fazendo segredo
De nada mais tinha medo
De tudo já era capaz

Já vivendo em amargura
Clementina nem dormia
Sem saber o que fazer
Dia e noite e noite e dia
Só pensava no marido
O seu amor tão querido
Que a empregada queria


      
                  (08)


Nesse dilema tão grande
De mulher abandonada
Clementina foi ficando
Bastante desesperada
Só pensava em se vingar
Até cobra quis criar
Já não ligava pra nada

Essa história tão hilária
Que gostei de versejar
Bem real e verdadeira
E bastante singular
Tudo que aconteceu nela
Daria até uma novela
Pra televisão mostrar

Finalmente quero crer
Que essa loucura danada
 - (De amor e de ciúme)
Que ninguém descobriu nada
Acredito e não duvido
Se tornou caso perdido
Decerto virou foi piada.

             FIM    (SETEMBRO/RIO/2019)

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