Este conto de cordel
Feito com certa invenção
E bastante bom humor
Há de ser boa diversão
Essa encrenca tão antiga
Que provoca até intriga
Sempre foi só gozação
Como coisa corriqueira
Carioca-nordestina
Mesmo não parecendo
Dizem que inda é rotina
Toda encrenca entre dois
Nada fica pra depois
Mas também nunca termina
Essa dupla tão sacana
De fato bem enquenqueira
Todo mundo sabe bem
Que vivem de brincadeira
Todos dois são parecidos
E são muito convencidos
Até fazendo besteira
(02)
Com o seu chapéu
de couro
Imitando o Gonzagão
Todo cabra nordestino
Adora ser brincalhão
Pra agradar o carioca
Lhe oferece tapioca
Só pra fazer gozação
O carioca também
De chapéu costuma andar
Pra dizer que é boêmio
E saber muito sambar
Quando vê um nordestino
O chama de virgulino
Só pra lhe sacanear
Nordestino é malcriado
Carioca nem é tanto
Quando tentam se entender
Acontece desencanto
Um fala muita besteira
Mas o outro de brincadeira
Só sabe fazer espanto
(03)
Quando se juntam os dois
Encrenca sempre acontece
De tão teimosos que são
Mais confusão aparece
O papo fica tão chato
Parece gato com rato
E só acontece estresse
Nordestino é esperto
Por gostar de carioca
Que além de ser sacana
Gosta também de fofoca
Todos dois com mesmo tino
Topam qualquer desatino
Nem ligam pra muriçoca
Conversa de carioca
É comum ter sacanagem
Se juntando ao nordestino
Ele quer mostrar vantagem
A conversa despenca
E vira logo uma encrenca
Prolifera a molecagem
(04)
Mas conversa nordestina
Com certeza é diferente
Quando está com carioca
A conversa fica quente
E mesmo havendo encrenca
Nada, nada se despenca...
Ele é sempre boa gente
Onde tem um nordestino
Carioca sempre tem
Parece louca atração
Que gera amizade também
Mas o que muito acontece
Nunca é como parece
Nordestino sabe bem
Todo carioca é besta
Por nascer na capital
Cidade maravilhosa
Chamada de cultural
Mas pra todo nordestino
Que procura esse destino
Ele quer ser bem igual
(05)
Nordestino minha gente
Mesmo sendo malcriado
E gostar do carioca
Prefere ser disfarçado
Sempre mora na favela
À noite acende até vela
E dorme quase acordado
Comparando um com o outro
Fica fácil perceber
Que há pouca diferença
Na maneira de viver
Na favela ou palacete
Cada qual tem seu macete
Pra poder sobreviver
A fama do carioca
Sempre foi bem surreal
É por isso que ele é besta
E está sempre sem sal
Quando está com nordestino
Quer brincar que nem menino
Pra mostrar ter bom astral
(06)
Mas fama de nordestino
É diferente de fato
Ele detesta ser besta
Mas quando dá pra ser chato
Ele é um pé no
saco
Com coceira no sovaco
É que nem um carrapato
Mas quando acontecem dúvidas
O difícil é saber
Quem de fato tem mais fama
E ninguém paga pra ver
De tão parecidos que são
Sempre bem juntos estão
É complicado entender
Essa tão maluca encrenca
Que parece brincadeira
É coisa bem carioca
Mas sempre bem brasileira
Pelo dito popular
É costumeiro falar
Ser coisa de lavadeira
(07)
Carioca e nordestino
Com certeza minha gente
Todos dois são enquenqueiros
Mas de jeito diferente
Um quer sempre ser esperto
Enquanto o outro é alerto
Pra não ter a cuca quente
Isso me faz afirmar
Que carioca e nordestino
São de fato parecidos
Todos dois têm mesmo tino
Faz encrenca toda hora
Mas não pisam na bola
Feito coisa de menino
Quem não gostou desta prosa
Pra defender carioca
Acho melhor se calar
E nem sair da sua toca
Nordestino sabe bem
O que de fato contém
No piar da jiripoca
(08)
Quero crer sinceramente
Que esta prosa tão legal
Glosada neste cordel
Tem um quê especial
Encrenca como
cultura
Há de ser boa leitura
Mesmo sendo surreal
Finalmente concluindo
Uma coisa lhes garanto
O carioca e o nordestino
Todos dois têm seu quebranto
De maneira inteligente
Eles rezam diferente
Mas rezam pro mesmo santo
Com certeza isso me basta
Para bem compreender
A encrenca dessa dupla
Tão comum de acontecer
Se rezam pro mesmo santo
Todos dois têm mesmo encanto
ELES SABEM
BEM VIVER!
FIM/jan/2019/rio
de janeiro
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