sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Meu (sexagésimo oitavo) cordel, editado em 2019. (068)



EM VEZ DE CACHAÇA PREFIRO TIQUIRA

A Cachaça e a Tiquira
Pra quem gosta de beber
Tem um quê controvertido
Mas bem fácil de entender
Tiquira é brasileira
Cachaça não fede nem cheira
Mas nisso não vou me meter


Quem desejar entender
Essa minha preferência
E saber mais de tiquira
Não carece inteligência
O gostar é pessoal
E convém ser informal
Pra não virar truculência

O que se aprende bem cedo
Nunca a gente esquece não
Fica na cachola da gente
Guardado sem confusão
Tendo ou não tendo valor
Como diz o professor
Será eterna lição


               (02)

A tiquira do Maranhão
Aguardente secular
Foi uma invenção indígena
Bastante rudimentar
Seu fabrico artesanal
Feito em fundo de quintal
Já foi demais popular

Quem plantava mandioca
Tiquira também fazia
Fabricar essa bebida
Qualquer caipira aprendia
Não bastava inteligência
Nem tampouco competência
Mas já foi grande mania

Essa famosa aguardente
De raiz tão brasileira
Que nunca ficou esquecida
Permanece de primeira
Com fabrico industrial
Ficou mais especial
E muito mais verdadeira


               (03)

Tiquira pra quem não sabe
Pelo dito popular
Foi pinga de cabra macho
Que bebia pra se mostrar
Quanto mais ele bebia
Mais tiquira ele queria
De tanto se embebedar

Essa tão rara bebida
Ficou tão sofisticada
Onde tinha antigamente
Hoje não tem mais nada
Sem querer fazer fuxico
Virou bebida de rico
Que motiva até piada

Degustar essa bebida
Em qualquer ocasião
Todo mundo sabe bem
Que cura até traição
De tanto ser degustada
Se tornou tão procurada
Que requer importação

              (04)

Tentarei do melhor jeito
Relembrar o seu fabrico
Que aprendi no Maranhão
Garanto não pagar mico
Esse raro aprendizado
Que eu guardava bem guardado
Não tem nada de fuxico

O que irei então relembrar
É bastante especial
Foi do jeito que aprendi
Num fabrico de quintal
Era tudo improvisado
Bastante desarrumado
Mas era bem natural

Esse engenhoso fabrico
Não dava trabalho não
Só carecia um Alambique
E um pequenino galpão
Entender destilaria
Sem tanta sabedoria
E ter certa intuição

                (05)

Conhecer a tal mandioca
Sempre foi um bom começo
Aprender fazer biju
Diminuía também o preço
Não tinha tanta mão de obra
Carecia pouca manobra
Sem haver qualquer tropeço

Um forno bem caipira
Tinha que ter afinal
Pra assar bem o biju
Na sua chapa de metal
O biju de tapioca
Da famosa mandioca
Não tinha água nem sal

Uma dorna de madeira
Também não podia faltar
Pra botar biju na água
Pra ele então fermentar
Ao começar ser pastoso
Exalava cheiro gostoso
Fazia a gente se empolgar

              (06)

A dorna era coberta
Pra sujeira não entrar
Não carecia ser mexida
Nem mais nada colocar
Com o vapor do calor
Como um vaporizador
Começava a borbulhar

Nem lembro de quantos dias
Era a tal fermentação
Mas esse era o segredo
Pra melhor destilação
A mistura fermentada
Precisava ser coada
Numa peneira de mão

Vejam que coisa bacana:
Depois da mistura coada
Se botava no Alambique
Pra fazer a destilada
Carecendo mais cuidado
Tinha fogo controlado
Pra tiquira ser pingada

                (07)

Controle de qualidade
Era coisa sem valor
Bastava sentir o cheiro
Sem carecer provador
Na hora de engarrafar
Qualquer um podia provar
Até mesmo o comprador

Se não me falha a memória
Comprador nunca faltava
Mas fazedor de tiquira
Também não se afobava
Trabalhava qualquer hora
Não ligava pra demora
O comprador esperava

Quem sabia fazer tiquira
Era alguém bem respeitado
E bastante autodidata
Sempre muito dedicado
Onde ele aparecia
Todo mundo o conhecia
Mas também era invejado

               (08)

Até hoje lembro bem
Dum cearense danado
Que fabricava tiquira
Pra vender lá no mercado
Era a tal Tiquira Atômica
Que lembrava a Bomba-atômica
Com seu nome caricato

Essa tal tiquira atômica
Se tornou tão afamada
Só por causa do seu nome
Que até hoje é lembrada
Ela além de barateira
Já era bem verdadeira
Foi a branquinha danada

É por isso que bem digo
Nunca gostei de mentira
Nem tampouco de enganar
Quem comigo se admira
Em vez de beber cachaça
Mesmo sendo até de graça
Prefiro beber TIQUIRA.

                      FIM/JAN/RJ/2019


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