sábado, 11 de agosto de 2018

Meu (quinquagésimo oitavo) cordel, editado em 2018. (058)


       NHÁ CHICA
(a beata milagrosa)

Mistérios do ser humano
São coisas de admirar
A história de Nhá Chica
De certo irá agradar
Seu passado abençoado
Bastante santificado
Achei por bem versejar


Com tão tamanha afeição
Peguei lápis e papel
Pra lembrar essa beata
Neste singelo Cordel
Comecei pelo ABC
Escutei nem sei por quê
O Bolero de Ravel

Escutando essa obra-prima
Tive tanta inspiração
Que logo pelo começo
Quase chorei de emoção
Quero crer sinceramente
Que serei bem convincente
Por favor, preste atenção
              (02)

Escolhi como cenário
Terras das minas gerais
(O Sertão da Mantiqueira)
Dos tempos coloniais
Pretendi sinceramente
Ser bastante coerente
Pra lembrar fatos reais

Essa rica região
De beleza escultural
Que guarda tantas histórias
Do Brasil colonial
Outra vez ficou servindo
De cenário mais que lindo
Pra este conto sem igual

Toda a vida de Nhá Chica
Teve um quê nesse lugar
Nesse sertão foi seu berço
Coisa muito singular
Com poucos anos de vida
Com sua mãe já desvalida
Em Baependi foi morar

             (03)

Baependi naquele tempo
Inda bem provincial
Ela teve que morar
Lá num fundo de quintal
Com sua mãe e seu irmão
Viviam vida de cão
Na pindaíba total

Do tão pouco que trouxeram
Ficou jogado no chão
Mas o que fora importante
A Imagem da Conceição
Ganhou depressa um altar
Pra mãe de Francisca orar
Rogando-lhe proteção

Mas aos dez anos de idade
Inda criança carente
Francisca perdeu sua mãe
Por motivo deprimente
Naquela vida tão dura
Uma doença sem cura
Levou sua mãe de repente

           (04)

A vida tem dessas coisas
Mas só Deus sabe o que faz
Francisca perdeu sua mãe
Mas nunca perdeu sua paz
Tendo amor e caridade
Com total serenidade
Começou ser mais capaz

Apesar de analfabeta
E com tamanha sofrência
Estando num labirinto
Careceu ter paciência
Como negra e sem cultura
Sua vida foi muito dura
Mas teve clarividência

Pela Virgem da Conceição
Ela, de tanto rezar
Com seu rosário e sua fé
Começou se levantar
Conquistando simpatia
A pureza que queria
Foi bem fácil conquistar

                     (05)

O povo Baependiano
Como fora bem católico
Logo foi se acostumando
Com seu jeito melancólico
Sua prudência e seu amor
Sua beleza de esplendor
Tinha um quê bem apostólico

Inda bem adolescente
Já era predestinada
Tinha o dom da caridade
Em troca de quase nada
Sem fazer demagogia
Conquistava simpatia
Porque foi bem humorada

Com seu amor tão verdadeiro
Contumaz glorificado
Seu viver foi se tornando
Muito mais afeiçoado
Ela a todos transmitia
Confiança em demasia
Algo bem santificado

            (06)

Párocos de Baependi
Sem saber o que fazer
Oravam pra todos santos
Pra bem mais coisa saber
Conseguiram com certeza
Descobrir a sua pureza
Do seu jeito de viver

Foi depois desse entrevero
Que a verdade apareceu
Todo povo da cidade
À Nhá Chica se rendeu
O chamego foi crescendo
Muito mimo aparecendo
Com certeza isso valeu

Seu amor pelos os mais pobres
Foi prova da sua bondade
Reconhecida por todos
Com total sinceridade
Foi um amor santificado
Bastante glorificado
Da mais sincera verdade

              (07)

Por muitos anos de vida
Nhá Chica sempre viveu
Numa pequena casinha
Até quando ela morreu
Todo seu sofrimento
Ficou lá em sacramento
Que já virou seu Museu

Nesse Museu pequenino
É fácil ser encontrado
Por qualquer um visitante
Seu tão bendito legado
Estar lá humildemente
De maneira diferente
Seu labor bem consagrado

Documentos e lembranças
E coisas do seu passado
As mais singelas possíveis
Ficou lá bem preservado
Na pureza do lugar
Humilde mas singular
Está tudo bem guardado

            (08)

Nada lá ficou faltando...
Pequeno altar de rezar
Aquela cama bem rude
Panelas de cozinhar
E até o seu rosário
Que foi bastante precário
Inda está no seu lugar

Na sua majestosa Igreja
(Da Virgem da Conceição)
Bem na frente do altar
Ela está no seu caixão
Nesse divino lugar
Faz a gente arrepiar
Pela força da emoção

Quando os sinos lá da Igreja
Começam a badalar
Quem vai conhecer Nhá Chica
Chega até logo a chorar
Lágrimas são derramadas
Mas benções são conquistadas
Bem na frente do altar

             (09)

Esse grandioso espetáculo
Só de fé e adoração
Lá no culto de Nhá Chica
Tem amor e louvação
Quem vai lá participar
Com certeza vai gostar
Pois faz bem ao coração

Por tudo isso e muito mais
Nhá Chica foi e continua
A tão querida Beata
Que não muda nem recua
Seu tão grande esplendor
Tem a luz e tem amor
Como a beleza da lua

Essa herdeira de escravos
Que não lia nem escrevia
Mas era clarividente
E tinha sabedoria
Nasceu, viveu e morreu
Com a graça que Deus lhe deu
Pelo bem que ela fazia

            (10)

Tanto se dedicou à
Penitência e a humildade
Passando toda sua vida
Só fazendo caridade
Foi uma pérola de amor
Com seu bendito esplendor
Viveu vida de bondade

Sua tão bem-aventurança
Bastante santificada
Chegou lá no Vaticano
Viajando longa estrada
Já nas mãos do Santo Papa
Numa solene etapa
Ela foi Beatificada

Com certeza ela foi é
E será eternamente
Cada vez mais milagrosa
Para o bem de toda gente
Milagre é salvação
É amor é devoção
Que ganhamos de presente

                      (11)

Os mistérios da vida
Como são de admirar
Foi pra mim felicidade
Este tão belo versar
Estes versos pra Nhá Chica
Até lá em Martinica
Muita fé irá levar

A Virgem da Conceição
Sua adorada padroeira
Que lhe deu tamanha fé
Durante sua vida inteira
Deve está gratificada
Ao lhe vê beatificada
Sem haver qualquer barreira

Ser negra, pobre e milagrosa.
É coisa bem singular
Nossa querida Nhá Chica
Mereceu ter bom lugar
Pelos santos em corrente
Acreditem minha gente
Lá no céu já deve estar

              (12)

Tantas graças merecidas
Que tanta gente já alcançou
É bem certo que Nhá Chica
Lá no céu encomendou
O seu espírito de luz
Agora bem mais reluz
Porque Deus lhe abençoou

Depois desta exortação
Sem nenhuma fantasia
Fiquei muito satisfeito
Por tão tamanha ousadia
Este arrojado cordel
Inda tendo até Ravel
Teve mais sabedoria

Aproveito este momento
De tão tamanha emoção
Pra lhes dizer que Nhá Chica
Foi quem me deu inspiração
Ao fazer o seu cordel
Nem gastei tanto papel
Mas mexeu meu coração.
                            FIM (Rio/Jul/2018)




















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