quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Meu (quadragésimo sétimo) cordel, editado em 2017. (047)



VASSOURAS (A cidade dos Barões)

Quem for ler este cordel
Por favor, preste atenção
Ele é um passatempo
E servirá de lição
Não precisa se apressar
Leia tudo devagar
E tire sua conclusão


Vassouras linda cidade
De tão imenso valor
Para o público em geral
Sempre estivera ao dispor
Agora neste repente
De maneira diferente
Melhor será pro leitor

Pra nosso Brasil inteiro
Este cordel vai editar
Tudo mais que se conhece
Desse famoso lugar
Seus mistérios e suas lendas
Estórias das suas contendas
Nada mesmo irá faltar

                  (02)
”Por detrás do Morro Azul            
Lá na Serra de Santana”
Foi onde nasceu Vassouras
Poderosa e soberana
Para bem se relembrar
Diz a lenda popular
Houve até reza cigana

O nome dessa cidade
Tem haver com (tupeiçaba)
A famosa (vassourinha)
Conhecida piaçaba
Esse arbusto bem danado
Que existia por todo lado
Inda tem e não acaba

Seu legado valioso
Tão histórico e cultural
Herança dos cafezais
Do tempo colonial
Será sempre um esplendor
Pra qualquer pesquisador
Tem valor especial
                  (03)
Vassouras é conhecida
Como importante lugar
Turístico e de lazer
Muito bom pra passear
Inda tem cheiro de roça
E cavalos com carroça
Todo mundo vai gostar

Ela mostra a qualquer um
Seu jeito bem surreal
Entre viver na cidade
Ou na zona rural
Sua grande diversidade
Não existe outra verdade
É sua marca como tal

Seu modelo suntuoso
Até hoje faz lembrar
O bom tempo dos Barões
Muito mais que secular
Tudo lá é bem histórico
Às vezes até folclórico
Vale à pena visitar

             (04)
O seu raro patrimônio
De tão tamanha beleza
Pelo IPHAN já foi tombado
Pra garantir com certeza
O valor da sua historia
Seu tempo de muita gloria
E sua fama de nobreza

Constatou-se nos anais
Que Vassouras foi nascer
Bem no Sertão Fluminense
Ainda ruim de viver
Mas parecendo aventura
Com total desenvoltura
Conseguiu sobreviver

No vale do Paraíba
No meio daquele sertão
Tendo água e muita terra
Foi sua grande salvação
Muita água e muito sol
E o canto do rouxinol
Era bom pra plantação

               (05)
Sua historia começou
Há quatro séculos passado
No Brasil colonial
Tudo bem documentado
E toda sua trajetória
De muita gloria e vitoria
Faz parte do seu legado

De pequenino Arraial
Foi à vila e depois cidade
Mesmo com tropeços mas
Com certa facilidade
Em pouco tempo passado
Sem nada ser apressado
Já tinha luxo e vaidade

Por volta do ano de mil
Oitocentos trinta e três
Vassouras passou a ser vila
Mas só tinha camponês
Só quando virou cidade
Para sua felicidade
Começou mudar de vez

                 (06)
Nesse tempo do passado
A Coroa Portuguesa
Dominava tudo mais
Com sabedoria e firmeza
Ninguém mandava em nada
A cobiça era danada
Quem mandava era a nobreza

Essa tão clara certeza
Lembra bem esse passado
Vassouras mesmo nasceu
Num lugar abençoado
Entre Minas, Rio e São Paulo
Parecendo até enjaulo
Já com destino traçado

Entre as Minas Gerais
Até o Rio de Janeiro
Caminhos eram abertos
Por ganância de dinheiro
O ouro era contrabandeado
Tudo era desordenado
Nessas rotas de tropeiro

                 (07)
Muitos problemas houvera
Com caminhos feito estrada
Os habitantes indígenas
Nem se ligavam em nada
Nas andanças pela mata
Era usado até chibata
Houve muita trapalhada

Outro problema bem grave
Lá também foi registrado
O ouro das Minas Gerais
Sendo contrabandeado
Bem por debaixo das matas
Entre rochedos e cascatas
Era um tropeço danado

Vassouras foi o local certo
Para ali ser instalado
Barreiras de todo jeito
Contra o ouro desviado
Tropeiro contrabandista
Como todo chantagista
Ficava desesperado

             (08)
A Coroa Portuguesa
Resolveu por bem fazer
Como melhor solução
Algo novo florescer
Toda aquela redondeza
Para ter mais fortaleza
Uma Sesmaria foi ser

Nessa nova condição
Já começou melhorar
Francisco Rodrigues Alves
O Sesmeiro do lugar
Trabalhava dia e noite
Até mesmo com açoite
Pra esse lugar melhorar

De certo sua grande idéia
Foi à plantação do café
Com tanta terra adubada
Cada vez tinha mais fé
Procurou ter parceria
Sem nenhuma fantasia
Pra não arredar o pé

                                 (09)
Escravocratas da época
De maneira sem igual
Com suas roças de café
E com manejo infernal
Fez negro sofrer demais
Cada vez ser mais e mais
Pior que qualquer animal

Nessa época o Brasil
Fora o maior produtor
De (grão de café) do mundo
De tão tamanho valor
Barões e Baronesas
Cada vez com mais riquezas
Viviam em esplendor

Os negros sofreram muito
Na labuta do café
Os Barões pouco ligavam
Nem tampouco davam fé
A bagunça era danada
Não tinha tempo pra nada
Nem rezar pra São José

              (10)
Muitas contendas havia
Entre capitães do mato
E negros acorrentados
Era covardia de fato
Como sempre castigado
Tudo bem esculhambado
O negro pagava o pato

Vassouras naquele tempo
Tivera muito mais escravos
Que no Brasil inteirinho
Negros bem fortes e bravos
Isso demorou acabar
E muito menos mudar
Houvera muitos conchavos

O escravo Manoel Congo
Negro forte e destemido
Nas lavouras e senzalas
Fora um líder bem querido
Para os Barões do café
Esse negro busca-pé
Sempre fora o mais temido

               (11)
Como negro inteligente
Tão preto que nem um breu
E sempre muito temido
No tronco muito sofreu
E sem muita explicação
Nem tampouco uma razão
Numa senzala morreu

Fizeram-lhe uma estátua
Pra lembrar seu sofrimento
Esse grande líder negro
Que sofreu triste momento
Realmente foi herói
Pelo tempo que corrói
Mereceu ser monumento

Vassouras reconstruiu
Pro povo da região
Um largo do Pelourinho
Da escravatura de então
Que quando é visitado
Em datas de feriado
Ainda motiva emoção

              (12)
Vassouras muito aprendeu
Com a cultura africana
Cultos, danças e batuques
E mistérios da savana
Tudo foi bem preservado
Pra nada ser renegado
Foi um aprendizado bacana

A escravatura em Vassouras
Demorou muito acabar
Os Barões daquela época
Nem pensavam em parar
Queriam a todo preço
Como foi lá no começo
Ter mais negros pra ajudar

Só depois da Abolição
Da Escravatura mudou
Sem mais café pra plantar
O negro comemorou
As riquezas do lugar
Sem poder continuar
Quase toda se abalou

                  (13)
Os Barões em maus lençóis
Tiveram que se mexer
Tornaram-se pecuaristas
Para não muito perder
Plantaram pequenas roças
Venderam até carroças
Pra melhor sobreviver

Na vida tem dessas coisas
Quando tudo degringola
Nunca é bom pra ninguém
Até Barão sempre gabola
Procura mudar de rumo
E tentar ter um aprumo
Pra não cair na marola

Vassouras atualmente
Enfeitando a natureza
Guarda bem o seu passado
Do seu tempo de riqueza
Tornou-se Instância Turística
De certa forma até mística
Preservando sua nobreza

                (14)
Completa cento e sessenta
Anos de luta na vida
Sempre alegre e graciosa
Como tal bem divertida
Já com quase dois mil anos
Ressalvando alguns enganos
Cada vez é mais querida

Diante de tantas surpresas
Vassouras revigorou-se
Pois até seu visual
Em algo modificou-se
Sendo antiga e graciosa
E talvez misteriosa
Mais atraente tornou-se

Tudo lá mudou de vez
Pra essa donzela tão bela
Até o Rei Gonzagão
Fez um xaxado para ela
Ela também passou a ser
Para assim permanecer
A mais linda Florisbela

                 (15)
Suas famosas Faculdades
De nível superior
Deixa qualquer estudante
Pronto pra ser doutor
Pouco importa ser dureza
Sendo ou não na vagareza
Só importa seu valor

Sua Academia de Letras
Como casa de cultura
Tem famosos Imortais
De tamanha envergadura
Essa luminosa estrela
Vale apena conhecê-la
Pra curtir literatura

Seu complexo cultural
Cada vez mais preservado
Por conta do seu turismo
É sempre bem visitado
Num trenzinho bem legal
Parando até no sinal
Anda-se pra todo lado

               (16) 
Com tanta coisa pra ver
Coisas do tempo passado
Deixa o turista sem sono
Olhando pra todo lado
O trenzinho vai apitando
Criançada vai gritando
E ninguém fica cansado

No percurso da viagem
Bem no centro da cidade
Fica a Praça Campo Belo
Com total austeridade
Palmeiras imperial
Ainda do tempo rural
Aumenta a novidade

E Nossa Senhora da
Conceição, cheia de graça
Olhando para o trenzinho
Fica na frente da praça
Como padroeira da cidade
E dona da caridade
Protege quem ali passa

                                     (17)
Outro passeio interessante
É conhecer suas fazendas
Que se tornaram Hotéis
Com cortinados de rendas
É hora de cochilar
Até mesmo relaxar
Saboreando merendas

Pra não faltar nada mesmo
Pareceu bem pertinente
Lembrar Eufrásia Teixeira
Mulher rica e diferente
(Filha e neta de Barões)
Sem haver imitações
Fora muito inteligente

Por que não tinha herdeiros
Essa diva caridosa
Dona de tantas fortunas
Tivera sua alma bondosa
Deixou, pros necessitados
Aqueles mais renegados
Sua herança grandiosa

               (18)
Esse gesto tão louvável
Fez de Eufrásia sua gloria
Como mulher bem guerreira
 Viveu tempos de vitoria
Como sua bela cidade
Sem sequer ter vaidade
Também ficou na historia

A dinastia de Eufrásia
Cada vez mais secular
Motiva muito interesse
Para quem quer pesquisar
Representa muito bem
Mesmo sendo muito além
Os Barões desse lugar

O Museu Casa da Hera
Talvez o mais visitado
Foi residência de Eufrásia
E continua preservado
O turista curioso
Sempre mais atencioso
Não deve deixar de lado

                  (19)
Vassouras com suas estórias
Ninguém precisa de guia
Até em bancos de praça
Em qualquer hora do dia
Tem gente pra conversar
Ou talvez desbilhotar
Tem muita cidadania

Pra chegar nessa cidade
Tem serras pra atravessar
Indo por Paracambi
É bom ir bem devagar
Indo por Miguel Pereira
Pode até haver ladeira
Mas também pode chegar

Como Instância de Turismo
Que viveu tempos de gloria
Essa cidade ganhou
Mais glamour e mais vitoria
Seu passado e seu presente
Bem será eternamente
Fonte de muita historia

                 (20)
Aos queridos vassourenses
Parabéns pra sua cidade!
Ela é bem singular
Pela sua diversidade
Não só deve como pode
(Como é uma bela ode)
Ter imensa vaidade

Essa cidade é mesmo
Confirmando previsões
Uma cidade modelo
De tantas opiniões
Uma estrela florescente
Que será eternamente
A CIDADE DOS BARÕES.

        FIM/Rio de Janeiro/set./2017



Autor: Cicero do Maranhão
Capa: Cartão Postal de Vassouras em Xilogravura de Erivaldo Ferreira - RJ.






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